Nesta segunda-feira (9), a especialista na área de Ciências Contábeis, Juh Círico, apresentou sua defesa de doutorado falando sobre a “Inclusão e permanência de pessoas transgêneras e travestis na contabilidade brasileira”.
A especialista faz parte do grupo de articulistas do Portal Contábeis escrevendo conteúdos voltados para a contabilidade, diversidade e inclusão.
Para entender mais sobre esse título de doutorado e sua importância para a especialista e o mercado contábil, o Portal Contábeis entrevistou Círico, confira:
Como você acredita que a sua defesa no Doutorado pode trazer um diferencial para a classe contábil?
Sou a primeira travesti no Brasil a se tornar doutora em contabilidade, infelizmente ainda não há outras pessoas trans no doutorado nessa área. Minha defesa é histórica e foi um abrir de portas para que outras pessoas trans e travestis possam entrar e permanecer em ambientes na contabilidade, acadêmicos e organizacionais. Recebi nota 10 pela tese estruturada em três artigos científicos, com indicação para premiação.
Quais dicas você daria para o público que deseja conquistar cada vez mais espaço nas universidades e no mercado mas ainda enfrentam obstáculos? Como perseverar em uma área que ainda não é tão diversa?
Para as pessoas que que almejam conquistar cada vez mais espaços, tanto na academia, quanto no ambiente corporativo, é preciso resistir, se posicionar e tentar estar próxima de pessoas que te respeitam. Um bom caminho é ter uma rede de apoio.
No ambiente acadêmico, verifique se há coletivos de estudantes e docentes voltados para a diversidade. Estar próxima de coletivos e de pessoas que entendem a importância do acolhimento e do respeito é uma boa alternativa.
Em relação às empresas, na minha tese identifiquei que há preconceitos que estão enraizados na cultura das organizações Contábeis, como exemplo, o machismo, racismo, homofobia, transfobia e o classismo, pois pessoas que possuem classe socioeconômica D/E tem mais dificuldade de conseguir um emprego na área contábil.
Há demanda por mudanças na cultura das organizações Contábeis para que pessoas com características pessoais diversas possam acessar e permanecer nesses ambientes da contabilidade. Para além do acesso, é preciso pensar em políticas e ações para a permanência.
Para as pessoas transgêneras e travestis, negras, brancas, amarelas, indígenas, com deficiência, com diversas idades e sexualidades, e que pretendem ingressar na graduação ou pós-graduação em Ciências Contábeis, sugiro conhecerem o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Gênero, Raça e Sexualidade: Gêneras-USP, e o Projeto TransFormar que é focado na inclusão e permanência de pessoas não-cisgêneras em cursos da área de negócios.
Qual a importância e o impacto da diversidade no âmbito contábil?
Estudos revelam que times diversos são mais criativos, inovadores e contribuem para o desenvolvimento das empresas. Na área contábil, é preciso que empresários e empresárias entendam a importância da diversidade nas empresas. Historicamente, a profissão contábil foi construída como sendo apenas do homem para o homem.
Desde a graduação, somos ensinadas que quem é o criador de uma técnica de escrituração contábil é um homem, conhecido como o “pai da contabilidade”, e essa visão do “padrão contábil” do homem, branco, cisgênero, heterossexual e sem deficiência, infelizmente, é reproduzida até os dias atuais.
Portanto, estudos em diversidade na contabilidade impactam no sentido de caminharem rumo à desconstrução da imagem desse “padrão”, pois existem pessoas com diversas características pessoais que estão na contabilidade e que objetivam permanecer na área.
Ainda há ambientes da contabilidade que valorizam apenas esse “padrão”. Por isso que pesquisas em diversidade na contabilidade são tão importantes, porque não basta ter competências profissionais quando a cultura da empresa é permeada de preconceito e discriminação. A mudança deve acontecer desde as raízes da cultura das empresas contábeis.
Fonte: Portal Contábeis
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